A Letra da Ana
Informações sobre a autora Ana Carmelita de Moraes Milhomem: possui formação em Letras pela UFRRJ e pós-graduação em Língua Portuguesa pelo Liceu Literário Português e pela UERJ; é apaixonada por escrever e pelo estudo e ensino de Línguas. Este blog é composto por fatias de seus pensamentos que se tornaram escrita.
quinta-feira, 12 de setembro de 2019
Aqueles que seguem pastores ficam presos a estes e não são livres. São como ovelhas dentro de cercas que são separadas até de suas próprias famílias. Essas ovelhas servem a pastores como operários não remunerados, mas, como usam antolhos, não enxergam isso. Ao contrário, porém, há os que não seguem, são autônomos e podem estabelecer laços além do curral.
sábado, 10 de novembro de 2018
As mudanças de
comportamento de uma sociedade conectada às redes sociais
Texto escrito em 02 de maio de 2018
As redes sociais têm sido uma ferramenta
de uso cotidiano da sociedade contemporânea de modo geral. A todo momento, pessoas
estão conectadas aos amigos e a páginas virtuais por entretenimento ou para
trabalho. Entretanto, a influência dessa tecnologia, na vida das pessoas, gera
diversos impactos negativos sobre o comportamento dos usuários e da população
como um todo.
A
começar pela velocidade do fluxo de mensagens que são enviadas e recebidas nos smartphones dos usuários das mídias
sociais, verifica-se, no comportamento dos usuários, uma tendência à compulsão
pela busca ansiosa por notificações mesmo em horas impróprias. Essa atitude priva
as pessoas, muitas vezes, de um contato com um familiar ou um amigo do mundo
não virtual devido a uma satisfação obtida ao atender uma demanda na rede
social. Esse tipo de conduta do usuário altera
a configuração de grupos sociais do mundo fora das redes, uma vez que
dificilmente se presencia pessoas em conversas longas e sem pressa.
Tal envolvimento que a rede social proporciona a nossas mentes é algo bem mais amplo se comparado ao rádio ou à televisão. Prova disso, é a completa dispersão a que se coloca um usuário, nessas páginas, diante dos estímulos recebidos pelas telas piscando, pelas cores e pelas funcionalidades. Essa distração muda o comportamento das pessoas,
visto que se tornam mais aquém ao que está ocorrendo à sua volta, algo que pode
provocar consequências que vão desde isolamento pessoal a acidentes
Além disso, cada vez mais, cresce o
número de pessoas que leem conteúdos que são postados diretamente nas redes
sociais ou por meio de links que são
encontrados nestas. As mídias sociais se tornaram uma forma de ler notícias, reportagens
e textos em geral. Usuários podem optar por ler apenas o título do texto pelo
qual se interessam ou clicar no hiperlink
para ter acesso ao texto completo. Esse recurso deveria ser algo agregador se
não fosse uma propensão a uma leitura superficial devido ao ambiente de
constantes estímulos das redes que desfavorece a concentração. Por isso, em
muitos momentos, o leitor no feed de
notícias não termina a leitura iniciada e acaba não pensando profundamente e
refletindo criticamente sobre o que leu.
Essa superficialidade na navegação,
desencadeada pela opção por diversos links
e recursos existentes nas redes sociais, atua diretamente na alteração do
funcionamento da memória de cada indivíduo. Quando o usuário alterna rapidamente
de uma tarefa para outra, utiliza mais a parte da mente que é relacionada ao
armazenamento temporário de informações em detrimento da área que é responsável
pela memória de longo prazo. Por
consequência do uso frequente de tal parte e devido à plasticidade do cérebro, a
mente tende a se adaptar a esse tipo de atitude e o usuário pode levar esse
comportamento mental para outras circunstâncias da sua rotina fora do meio
digital. Isso significa que, mesmo em situações em o usuário não está on-line, poderão
ser mais ativadas pelo cérebro regiões associadas à multitarefas e a decisões
rápidas em contextos em que se precisaria de uma análise mais aprofundada ou
demorada. Talvez um pouco por esse motivo, muitas pessoas hoje costumam não ter
paciência para ouvir explicações detalhadas e exigem respostas rápidas de seus
interlocutores ao fazer uma pergunta.
Imersas nas redes socais, pessoas também
sentem a necessidade de construção de uma imagem digital em que se aparente
segurança e vaidade. Para tanto,
identifica-se uma verdadeira obsessão por selfies
em prol de esconder os medos e os defeitos que existem atrás da fragilidade
natural do ser humano. Da mesma maneira, também se procura postar fotos e
vídeos de momentos agradáveis a fim de se demonstrar uma vida feliz. Esse marketing pessoal leva à criação de uma
outra identidade como tentativa de melhorar a autoestima.
São essas pessoas frágeis de
personalidade que estão expostas diariamente aos mais variados conteúdos
formadores de opinião divulgados, nos posts,
nas redes sociais. Sem citar as crianças, que crescem tendo como referência
conteúdos encontrados nas redes. Algo preocupante, uma vez que muitos assuntos
veiculados nessas páginas são notícias falsas ou mensagens de ódio. Ao levar em
consideração que os usuários passam muito tempo logados, é provável que essas
informações não confiáveis estão sendo a principal fonte de conhecimento para
muitas pessoas na atualidade. Fato que torna duvidosa e prejudicada a formação
e manutenção de valores morais adequados a uma vida social com padrões éticos.
Guiados pelas
opiniões formadas por meio dos conteúdos divulgados nas páginas das redes
sociais, usuários costumam usar o recurso “comunidades” para optar por páginas
com as quais se identificam. Com isso, ocorre uma divisão de pessoas
de acordo com suas posições políticas, religiosas, etc. A partir de tal
separação, iniciam-se discussões e desavenças desnecessárias, geradas, muitas
vezes, devido a uma imersão exagerada nesse mundo das publicações virtuais. Isso,
quando pensado no âmbito familiar e do círculo de amizade, em muitos casos, cria
conflitos entre entes queridos. Por outro lado, quando esse fato é entendido de
forma ampla, percebe-se uma segmentação da sociedade em ideologias. Nesse sentido, as comunidades virtuais causam uma alteração
de valores, pois incentivam as pessoas a
desentendimentos e fragmentações doentias e encorajam os usuários a valorizar
somente os seus gostos pessoais.
A divisão de pessoas em comunidades
acaba também por construir uma forma de estruturar grupos sociais muito
diferente das estabelecidas quando pessoas não estão no ambiente digital.
Isso, porque, nas comunidades da vida real, o indivíduo precisa se submeter a
um encaixe social para fazer parte dos grupos, enquanto, nas comunidades virtuais, o
próprio usuário das redes eletrônicas controla seu círculo de amigos. As
ferramentas das redes possibilitam que amigos sejam adicionados facilmente, ao
contrário do que ocorre no ambiente não virtual, em que a construção de um relacionamento
demanda algumas atitudes como interagir, conversar, conhecer melhor, entre
outras. Sendo assim, as pessoas deixam de realizar várias etapas do processo
social da amizade, comportamento que transforma a formação do vínculo social em algo volátil e
banal.
Diante desse cenário, nota-se uma
sociedade influenciada e alterada pelas funcionalidades das redes sociais. Nos
mais diversos lugares, há milhares de pessoas conectadas durante muitas horas
do dia e também da noite. As mídias sociais usam os mais criativos artifícios
para manter os usuários fixados na tela do smartphones
e, a partir das curtidas, compartilhamentos e publicações, influenciam o comportamento
das pessoas e modificam características sociais.
Por outro lado, não há mais como evitar
a tendência tecnológica da sociedade moderna, dado que a tecnologia é parte
natural de qualquer evolução social. Dessa forma, a utilidade dos recursos
tecnológicos é inegável para atender diversas demandas da população do mundo
contemporâneo. Entretanto, há a necessidade de se estabelecer regras humanitárias
para os ambientes tecnológicos. Iniciativas que promovam redes sociais pautadas
em princípios éticos que mantêm as mentes dos usuários sadias e valorizem os
valores da sociedade devem sem colocadas em prática. Para que isso ocorra,
empresas de tecnologias e os representantes dos países deveriam criar um
conselho em busca de soluções que levem à implantação de páginas socialmente responsáveis.
Referências:
BAUMAN,
Zigmunt. Vida para consumo: a
transformação das pessoas em mercadoria. Rio de Janeiro: Zahar Ed., 2008.
Disponível em: https://edisciplinas.usp.br
BETTO,
Frei Carlos. Redes sociais: proveitos e
riscos. Blogue frei betto. Disponível em: http://www.freibetto.org/index.php/artigos/14-artigos/29-redes-sociais-proveitos-e-riscos
Bowles, Nellie. Antigos funcionários do Google e Facebook criam grupo para combater o
que construíram. New York:
The New York Times, 2018.
http://www.gazetadopovo.com.br/economia/nova-economia/antigos-funcionarios-do-google-e-facebook-criam-grupo-para-combater-o-que-construiram-4aofzpn5s843122km22jst1oy
CARR, Nicholas. The Shallows: What the Internet Is Doing to
Our Brains. New
York: Norton & Company, 2010.
CORRÊA,
Alessandra. Ex-funcionários do Facebook e
do Google criam campanha para proteger crianças do vício em redes sociais. Winston-Salem:
BBC Brasil, 2018. Disponível em: http://www.bbc.com/portuguese/geral-43002971
QUEROL,
Ricardo. Zygmunt Bauman: “As redes
sociais são uma armadilha”. Madrid: El País, 2015. Disponível em: https://brasil.elpais.com
Rosenstein, Justin, et al. Our society is being
hijacked by technology. Center for
Humane Technology: Fribourg, 2018. Disponível em: http://humanetech.com/
sexta-feira, 9 de novembro de 2018
A essa primazia de prima: Laryssa.
TOTALMENTE DEMAIS!
A menina de nome Laryssa
Ela é sempre exemplo em tudo que faz.
O que ela não faz?
É La aqui, é La acolá...
Ela dança, ela atua, ela trabalha, ela brilha;
Ela distribui sorrisos
Ela toca vidas e violão
Ela ora, em boa hora e em outrora.
Ela desfila quando anda
Ela é movimento
Ela estuda,
Tu és tudo, La.
Ela é polivalente
Ela é inteligente
Crente...
Com o pintar do seu rosto,
Ela acende a fé e leva felicidade
A todas as idades.
Ela é modelo de exemplo
Ela é modelo de beleza...
Há uma lenda que diz que o menino ficou maluquinho por saber que ela viria ao mundo...
E ele nem tinha visto esse sorriso dela.
TOTALMENTE DEMAIS!
A menina de nome Laryssa
Ela é sempre exemplo em tudo que faz.
O que ela não faz?
É La aqui, é La acolá...
Ela dança, ela atua, ela trabalha, ela brilha;
Ela distribui sorrisos
Ela toca vidas e violão
Ela ora, em boa hora e em outrora.
Ela desfila quando anda
Ela é movimento
Ela estuda,
Tu és tudo, La.
Ela é polivalente
Ela é inteligente
Crente...
Com o pintar do seu rosto,
Ela acende a fé e leva felicidade
A todas as idades.
Ela é modelo de exemplo
Ela é modelo de beleza...
Há uma lenda que diz que o menino ficou maluquinho por saber que ela viria ao mundo...
E ele nem tinha visto esse sorriso dela.
quinta-feira, 25 de outubro de 2018
Folha do Campo
Terça-feira, 05 de junho de 2018
Mineirês: palavras “pititinhas”, “grandimais” e “deferentes”
Ana Carmelita de Moraes MilhomeM.
Quem
disse que mineiro “come” palavras ou parte delas? Isso não é totalmente
verdade, primeiro que mineiro come mesmo é queijo. Segundo porque ele não só
diminui, como também acrescenta, altera de lugar e substitui fonemas nas
palavras, modificações que geram vários impactos na pronúncia. Mas, como se
chama esse fenômeno que acarreta tais mudanças nos vocábulos e expressões da
língua? Os estudiosos do assunto denominam metaplasmos. Por outro lado, os
mineiros não fazem ideia da nomenclatura, apesar de entenderem bem da sua
aplicação.
Em
Minas, quando alguém fica admirado por algum motivo, solta-se logo um “Nossa Senhora!”.
Porém, essa interjeição se reduziu tanto que de “Nossa Senhora”, passou a ser
“Nossa!”. De “Nossa!”, passou-se a “Nus!”, que virou “Nu!”. As supressões por
apócope foram muitas e sucessivas, mas, por mais incrível que seja, o efeito
expressivo parece ter aumentado com a diminuição dos sons. Nada impede,
entretanto, que, para demonstrar uma admiração mais pensativa, utilizem-se as
formas maiores.
Na
mesa do mineiro, também há metaplasmos. Ele come mingau de “mii” verde e “roz”
doce, mas, quando passa mal, em alguns casos, sente uma dor de “istomu
disgramada”. Se a dor for forte, ele reclama que “dói dimai”. Já em
outra ocasião, quando pronuncia “dói dimai” com a vogal fechada [o], ou seja,
“dôi dimai”, quer dizer dois de maio ou doido demais, depende do contexto. Em algumas
falas do mineiro, os metaplasmos são tantos que ocorrem até homonímia e paronímia. Calma! Muitos
já estão sob controle dos estudos linguísticos
que dão conta das aféreses em “roz doce”, das síncopes em “istomu”, da permuta
em “disgramada” e dos demais casos.
Além
de pensar em comida, o mineiro também deseja outras coisas, porém “vontade” é
algo que não é comum em Minas Gerais. Lá o que se ouve muito mesmo é “vontá”:
“vontá saí”, vontá trabaiá”, “vontá passiá”, “vontá falá”... O “de” não faz
falta para demonstrar a intensidade do querer, porque mineiro não é bobo e emprega menor esforço para falar, mas mantém a sílaba
tônica das palavras. Porém, faltou citar aqui
uma das maiores vontades dos mineiros: a “vontá” de ir para os “Istasunidos”(Estados
Unidos). Eles juntam rapidamente as malas assim como juntam o nome do país em
uma palavra fonológica bem menor do que o nome composto original.
Os
metaplasmos também estão presentes quando os mineiros vão visitar alguém. Se
tiver um cafezinho à espera, eles dizem que não se importam com “sóli” (sol)
quente ou “lubrina” (neblina). Caso seja noite, mineiro diz que basta usar a
lanterna para “lumiá” (iluminar) o caminho. É desse jeito que o mineiro
constrói suas falas: aumenta, subtrai, altera e troca fonemas. Faz um “sol” com
paragoge, faz chover metaplasmos em “neblina” e usa aférese, síncope e apócope
ao “iluminar”. Para o mineiro, só importa a simplicidade no falar. Se a palavra
vai ser pronunciada de maneira intacta ou não, aí já é outra história...
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