Vida de Graça
Gracinda tinha mania de substituir
Substituía o a doença pelo Adriano Kury
Substituía o barraco pelo Camilo Castelo
Substituía a escuridão pela Clarisse Lispector
Substituía o cinza por Guimarães Rosa
Substituía o desemprego pelas trapalhadas de Emília
Substituía a revolta por José Paulo Paes
Substituía aquela dor por Eça
E assim ia trocando tudo
Trocava os pés calejados por Camões
Trocava as suas perdições pelas Shakespearianas
Trocava para não dar Bandeira
E manusear a vida
Em vida, que, por vezes, se tem Sócrates